Friday, December 04, 2015

Velório do Geni

Como na estória do rapaz que, ao perguntado o que gostaria de ouvir em seu velório, responde:
- Ele esta se mexendo!
                Começo as lembranças com a despedida de nosso irmão, Geni.
Por se tratar de uma noite em que as historias contadas à beira do caixão eram dignas de contos de fadas, apesar da pobreza, da dureza da nossa vida, nossa conclusão foi de que, morrendo aos quarenta e poucos ele viveu, com certeza, mais do que todos nós. E de todos os familiares perdidos, foram quatro em um período de três anos, (quando falo perdidos quero dizer morreram, mesmo), o Geni é aquele que, obvio deixando de lado os laços afetivos e a saudade, sinto, como disse certo pensador, não medo, mas pena pela necessidade de morrer-se.
Ele sempre fora o mais afetuoso com todos, apaziguador e sempre com astral elevado, pra ressaltar, apesar da duríssima vida que levava. Infelizmente é um tema muito sério, o perdemos para o alcoolismo e consequências de uma vida totalmente desregrada. O uso como exemplo ou contra pra entender que a diferença entre veneno e remédio está na dose. Diversão, desapego de menos mata ao mesmo tempo em que o contrario também.
                Então, como segunda opção, (a primeira seria a do rapaz da estória), gostaria que lembrassem no meu, metade da vivencia desta figuraça.
                Também serve pra traçar um paralelo e alertar, pra não parecer arrogante, alertar a mim mesmo, da simplicidade da vida e de que a morte chega pra todos nós. E que algo como um velório, que parece ter toda uma carga negativa na própria palavra, pode ser um tributo à uma vida “bem” vivida, em um momento de reflexão.
                Agora imaginem, eu havia vivido até os 16 anos como o filhinho caçula, mesmo sem muita regalia por causa das condições mínimas da família, com alguns mimos.

                Aos 16 minha mãe se suicida, (temos 99% de certeza que foi suicídio), no mesmo ano meu outro irmão morre por tuberculose, dois anos depois meu pai se mata. Então, nesta noite fria de Pelotas meu irmão Geni era vencido pelos estragos de uma vida doida. Com a morte de meu pai minha irmã mais velha me levou pra morar com ela, meu cunhado e minha sobrinha, que adorou a ideia. Morei até decidir que iria viver de musica, então esta “profissão de vagabundo” expirou a validade do meu passaporte. Mas o que quero dizer isto é que na noite do velório do Geni eu estava morando sozinho há, pouco menos de um mês e como tentava aprender a ganhar algum dinheiro com a musica e, digamos eu não estava conseguindo muito bem, havia dias que me alimentava pouco. Sabem que em velório levam café, bolos, sanduiches, chimarrão, sem falar que, pelo menos tive companhia depois de tanta coisa  ruim, mas uma barriga cheia conforta muito.