Como na estória do rapaz que, ao perguntado o que gostaria
de ouvir em seu velório, responde:
- Ele esta se mexendo!
Começo
as lembranças com a despedida de nosso irmão, Geni.
Por se tratar de uma noite em que
as historias contadas à beira do caixão eram dignas de contos de fadas, apesar
da pobreza, da dureza da nossa vida, nossa conclusão foi de que, morrendo aos
quarenta e poucos ele viveu, com certeza, mais do que todos nós. E de todos os
familiares perdidos, foram quatro em um período de três anos, (quando falo
perdidos quero dizer morreram, mesmo), o Geni é aquele que, obvio deixando de
lado os laços afetivos e a saudade, sinto, como disse certo pensador, não medo,
mas pena pela necessidade de morrer-se.
Ele sempre fora o mais afetuoso
com todos, apaziguador e sempre com astral elevado, pra ressaltar, apesar da
duríssima vida que levava. Infelizmente é um tema muito sério, o perdemos para
o alcoolismo e consequências de uma vida totalmente desregrada. O uso como
exemplo ou contra pra entender que a diferença entre veneno e remédio está na
dose. Diversão, desapego de menos mata ao mesmo tempo em que o contrario
também.
Então,
como segunda opção, (a primeira seria a do rapaz da estória), gostaria que
lembrassem no meu, metade da vivencia desta figuraça.
Também
serve pra traçar um paralelo e alertar, pra não parecer arrogante, alertar a
mim mesmo, da simplicidade da vida e de que a morte chega pra todos nós. E que
algo como um velório, que parece ter toda uma carga negativa na própria palavra,
pode ser um tributo à uma vida “bem” vivida, em um momento de reflexão.
Agora
imaginem, eu havia vivido até os 16 anos como o filhinho caçula, mesmo sem
muita regalia por causa das condições mínimas da família, com alguns mimos.
Aos 16
minha mãe se suicida, (temos 99% de certeza que foi suicídio), no mesmo ano meu
outro irmão morre por tuberculose, dois anos depois meu pai se mata. Então,
nesta noite fria de Pelotas meu irmão Geni era vencido pelos estragos de uma
vida doida. Com a morte de meu pai minha irmã mais velha me levou pra morar com
ela, meu cunhado e minha sobrinha, que adorou a ideia. Morei até decidir que
iria viver de musica, então esta “profissão de vagabundo” expirou a validade do
meu passaporte. Mas o que quero dizer isto é que na noite do velório do Geni eu
estava morando sozinho há, pouco menos de um mês e como tentava aprender a
ganhar algum dinheiro com a musica e, digamos eu não estava conseguindo muito
bem, havia dias que me alimentava pouco. Sabem que em velório levam café,
bolos, sanduiches, chimarrão, sem falar que, pelo menos tive companhia depois
de tanta coisa ruim, mas uma barriga
cheia conforta muito.
No comments:
Post a Comment